A noite chegou e meu pai também. Eu estava
no quarto quando ele bateu na porta.
- Toshiko.
- Pode entrar. – Estava lendo algo para ver
se não perdia o assunto da semana.
- Sua professora me ligou... O que deu em
você? – Meu pai era alto e toda vez que entrava no quarto me parecia que ele
tinha arrombado a porta e vinha me bater. Mas seu coração era manso. – Ela
estava pensando no seu bem.
- Me desculpe pai.
- O que?
- Me desculpe se eu sou um erro. Se eu não
deveria ter nascido. – Comecei a chorar baixo. – Ninguém naquela escola gosta
de mim. Eles vivem bem. E eu sou uma pessoa diferente em meio a eles!
- Então porque está pedindo desculpas?
- Hã?
- Você é diferente não é? – Eu o olhei
profundamente, seu sorriso me acalmou um pouco. – Sinta-se feliz por ser
diferente. Ser igual a alguém é ser uma simples cópia.
- Tem razão.
- Vou ficar fora por alguns dias a mais. –
Ele me abraçou. – Seu pai te ama muito está bem? Yumi...
Foi a primeira vez que ele me chamou de
Yumi. Era realmente bom ouvir aquilo. Mas ao mesmo tempo, depois que ele saiu
do quarto, toda a tristeza voltou até mim. E eu puder perceber que era inútil.
Como eu não trabalhava com nada, o que me
restava era ficar em casa com meus livros e minha cama. A noite se estendia e
eu já não conseguia decifrar os escritos no livro. Meus espirros me fizeram
gastar vários lenços de papel, e agora eu finalmente tentaria dormir.
Depois de fechar meus olhos, o que me
restava era chorar em meu mundo. Tudo o que eu fazia era ser o saco de treinos
da minha mãe. Um símbolo para o meu pai. Um nada para o resto do mundo. Até
para mim mesma.
Foi então que olhei para a janela e a chuva
já se confundia com minhas lágrimas. De repente ouvi uma voz.
- Yumi... – A voz vinha de fora do quarto.
Disso eu tinha certeza. Era meiga e simples. – Yumi. – Mais uma vez ela me
chamava. O medo me veio, mas aquela voz me dava conforto. – Yumi... – Na
terceira vez eu me sentei na cama, tentando ouvir.
Minha mãe e meu pai haviam saído. E até
agora não tinham voltado. Quem estava me chamando de um jeito tão suave?
Levantei e fui até a janela do quarto. A chuva escondia tudo, estava tudo muito
escuro.
Até que olhei para a porta de minha casa e
vi um ser de pé. Em frente à porta. Quando ameaçava apertar a campainha eu
perguntei para mim mesma.
- Quem é você? – Depois de dizer isso o ser
que parecia um homem foi virando a cabeça em minha direção. E eu abaixei, me
escondendo. – Droga. Deve ser algum psicopata ou ladrão.
- Estou com frio... – A mesma voz agora
falava comigo novamente. – Estou com frio Yumi... – Parecia que estava sendo
atraída por ela. Então, devagar, voltei a olhar pela janela. O homem não estava
mais na porta.
- Ainda bem que ele foi embora. – Eu disse
em voz alta. Depois me virei para deitar. Mas com o medo tinha me esquecido de
me cobrir. Até que alguém com as mãos mais suaves que eu já vi me trouxe o
cobertor. – Obrigada. - Depois de alguns segundos é que levantei correndo. –
QUEM É VOCÊ?!
Meu grito ecoou por todo o quarto. Estava em
minha frente, um garoto. Totalmente vestido de branco, como um médico. Parecia
brilhar, e tinha um sorriso lindo no rosto. Eu continuei assustada, sem reação
enquanto ele me olhava amavelmente.
(Fim do primeiro capítulo)